quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Deixa-me só que no meu medo
Há loucuras que mantêm quente.
Relaxo e vou esquecendo
Aquilo que os dias deixaram em mim.
Sinto a carícia do beijo que passou,
A memória esquecida do que já não é.
Sorrio e olho para fora,
Para fora de mim,
Já olhei vezes de mais para dentro e não gosto.
Ainda oiço o eco dos teus gritos,
São eles que me embalam no sono,
Às vezes junto-lhes os meus
E partilhamos assim, sem que saibas, a dor.
Mas não há dor quando penso em ti,
Há um sorriso.
Um sorriso que era só teu,
Um sorriso que agora é meu e eu não o quero.
Há sonhos e vontade,
Há vida e medo do que vem.
Mas o medo nada impede,
Só avisa,
E eu sei ouvi-lo.
E sei ver no espelho o que quero de mim,
Só tenho pena de ainda não o ser.
Caminho para lá, caminhamos todos,
O percurso e o destino podem ser diferentes
Mas o medo? O medo é transversal.
E porque amanhã sei que tenho de me levantar e dar mais de mim,

Hoje fico aqui, a lembrar para me tentar esquecer.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

et oroda

Ainda consigo fechar os olhos e imaginar a textura do teu cabelo debaixo dos meus dedos. Consigo-me lembrar de como, timidamente, arranjava motivos para te segurar as mãos ou prolongar um toque.          
 Lembro-me de como as nossas pernas se encaixaram e do quão difícil foi para mim deixar-te sair do conforto da nossa colcha. Lembro-me do teu calor, do teu cheiro, da tua presença. Lembro-me de querer envolver-te com os braços mas ter medo que isso só te afastasse mais. Lembro-me de te querer beijar e pensar “este não é o momento certo, estás a imaginar coisas”. Lembro-me de te mostrar mil músicas na esperança que na letra de uma conseguisses ler aquilo que te queria dizer. Lembro-me do teu sorriso e derreto. Adoro-te. Adoro-o. É lindo. Absurdamente lindo. E absurda também é a falta que me fazes aqui. Mal consigo esperar por te ter nos meus braços e matar a saudade com a raiva de quem não te teve por tanto tempo. Mas espero, claro, por ti e pelo teu corpo, pelo teu sorriso e o teu riso, por ti… porque me deixas sem palavras quando penso em ti. Porque fico com um sorriso parvo a pensar em ti. Porque acordo todas as noites à espera que estejas ao meu lado e o que encontro é a saudade. Porque te digo até já porque não posso dizer mais. E se pudesse talvez não dissesse porque os meus lábios também têm saudades dos teus.

sexta-feira, 25 de maio de 2012




As notas sobem de tom,


A mão está mais rápida, mais certa…


Subitamente levanta-se uma voz,


Suavemente.


E a dança surge na nossa mente,


Os passos, os rodeios, a perseguição,


De repente estão juntas as duas naturezas,


Voz e música debruçadas sobre si,


Elevando-se na noite,


Sustendo-se acima das nossas cabeças…


A pele arrepia-se, esboças um sorriso.


Está cada vez mais rápida,


Música e voz a fluir com um só,


Sonhos acordados sonhados por outros,


(e quão belos são os teus sonhos)


Sucessão de imagens, e cores, e cheiros,


E agora já não estou cá,


Estou aqui, neste lugar eterno que é a noite,


Sei mais, sou melhor


E tudo porque me trouxeste cá.


E a música continua,


Impossivelmente rápida,


Inacreditavelmente bela.


Eu sustenho a respiração,


Não quero que falhes.


E por momentos o Mundo para.


Estamos suspenso e olhas para mim,


Eu vejo-te e sei quem és,


Sorrimos.


E a música acaba e o momento parte,


Fica o silêncio,


Fica o sorriso nos meus lábios.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Aqui os dias são maiores e há raios de luz a entrar pela janela.
Todos os dias acordo com a cabeça clara,
Sem me lembrar de como adormeci,
O sorriso que trago no rosto só desaparece quando penso em ti
E no que serias hoje.
Ah! Quão triste foi ver-te morrer.
Desapareceste, mas não rapidamente.
Demorou mas recuperei,
Tinha de recuperar,
Cada memória tua era um golpe
E eu não estava preparado.
Às vezes ouvia a tua voz
Mas a casa estava vazia.
Sabes que cada sorriso teu nas fotografias me causava um esgar?
No entanto o tempo cura tudo,
A frase está gasta,
A verdade não,
Aos poucos a dor que trazias não passava de recordação.
Agora voltei a ouvir música,
Já consigo respirar,
Mas a cabeça às vezes fica confusa,
Por vezes acordo apenas para chorar.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Amar-te

Se amar-te é morrer,
Vivi o que senti
E por momentos fui rei
De um mundo que há muito perdi.
Não sei se ainda ouves
Aquilo que outrora gritei
Nem se ainda ecoa em ti
O sonho que derramei,
Mas cada momento é eterno
E a eternidade fugaz,
Ainda ontem mudei as rosas
Da campa onde o meu coração jaz.
E sonho mil pesadelos,
Que há muito julguei esquecidos,
O que resta dos que sobrevivem
Para apenas serem esquecidos?

domingo, 19 de fevereiro de 2012

ioreh

Aquele que era poderoso,
O magnificente, o majestoso,
Hoje chora por quem partiu.
Não deixou de ser um herói,
A grandeza ainda nele reside,
Mas o que outrora foi,
Hoje mostra-se esbatido.
O humor é mais sombrio,
Os sorriso tão escassos,
Os olhos parecem distantes e tão gastos.
Não tem de ser assim, nunca tem,
Mas é fácil de falar quando ainda se tem alguém.
Só que as lágrimas e o pesar,
A tristeza mal escondida,
Não são bons para a mente,
Só infectam a ferida.
Mas que posso eu fazer se nem falar contigo consigo?
Queria que te abrisses ao mundo,
Deixa-me ser teu amigo.
E não, não precisamos de falar.
Há palavras que não precisam de ser ditas,
Há silêncios que fazem curar.
Qualquer frase é vazia
E eu não saberia por onde começar.
Nenhuma mentira te faria esquecer
Aquela que te ensinou a amar.
Mas nós ainda estamos aqui,
Não vale a pena lutar?
Aquilo que ela te deu
É o que nos estás a tirar.
E ver-te definhar dói tanto,
Não sei o que deva fazer.
Ninguém sabe e assim esperamos,
Por algo que te impeça de morrer.
Porque o herói que todos conhecemos
Ainda está aí, eu sei que está,
Só não sei se ele ainda quer
Ficar do lado de cá.
Cada lágrima tua, cada soluço,
É uma parte de nós que agonia,
É o quebrar da fantasia
Que erguemos à nossa volta como bastião
Contra esse teu mundo de desolação.
Se aquilo que perdeste não pode ser recuperado
(acredito que não, acho que ficarás para sempre marcado)
Porque não seguir em frente?
Porque não olhar para o lado?
Se abrisses os olhos vias que não estás desamparado.
Eu sei que o tempo anestesia a dor,
Mas o tempo que perdes não é tempo, é amor…
E se os que hoje esperam, amanhã cá estarão
Porque não deixá-los agora preencher a imensidão?
Sabes que não consigo, nunca fui bom a falar…
Mas peço que escutes o meu sussurrar:
“O coração e a mente vão recuperar,
E a dor que agora sufoca no futuro vai acalmar”.
Mas que a dor sirva para te recordar,
Pois a dor que se esmaece não vai desaparecer,
O coração só chora quem não quer esquecer.
E quando te libertares da tristeza caída,
Será esse o dia em que regressarás à vida.