quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

fui...mas ainda sou

Não tenho sonhos ou esperanças,

Ilusões dessas já não me restam.

Sei quem sou, o que fui, o que virá.

Nada me resta que não ser.

O que quis foi inalcançável,

Ficou este vazio em mim.

Seria melhor não ter almejado mais,

(Sobre)Viver é já um feito apreciável.

Para quê despertar do torpor

Se o que alcanço é apenas um reflexo do que ambiciono mostrar-te?

Desejava escrever e gravar-te as palavras na mente,

Fazer-te chorar e apaixonar por aquilo que imaginas que sou.

Queria ter sido um fogo avassalador

Nas até as cinzas que dele resultam,

Ou o fósforo frio que o iniciou

Brilham com uma intensidade incandescente à beira do que sou.

Fui um sorriso anónimo na multidão,

Fui um olhar de adoração ignorado,

Fui Rei de um mundo só meu

(o mundo mais verdadeiro que conheci).

Fui um poema,

Fui dois ou três.

Fui uma lágrima vertida,

Uma memória apagada,

Fui o amor de uma vida

Mas na manhã não fui nada.

Fui cantor, músico, poeta, amante,

Fui Uno por um instante.

Derramei-me pelo mundo e fui tu, e uma clareira, e um degrau.

Não fui bom, não, só não fui mau.

Por momentos fui eterno,

Por momentos morri,

Mas nunca deixei de sentir,

Eu nunca esqueci.

Fui tudo o que sonhas e mais,

E tudo o que sonhei cabe em ti.

Fui tudo aquilo que quis

Mas nunca o que agora sou.

Hoje inicio a vida que outrora em mim acabou.


7 comentários:

Anônimo disse...

Nunca é tarde.

Kvothe disse...

Anónimo acreditas mesmo nisso? Eu acho que algumas vezes o tempo tem grande influência nas decisões que tomamos :p

Anônimo disse...

Acredito. O tempo é uma pequena desvantagem, não devemos nos deixar influenciar.

Paula Suspiros disse...

Gostei, tens talento :)

Kvothe disse...

Obrigado pelo elogio Paula :)

DC disse...

"fui", "fui", "fui" e mais "fui". Um poema que mostra, pelo menos no momento em que foi escrito, que vives muito das memórias e das marcas que dela advêm. Só vejo um iniciar no fim do texto, mas que te deveria saber a pouco.

O passado só serve para nos ensinar a viver o presente.
Não é saudável pensar no hoje como o inicio de algo melhor que acontecerá amanhã. Isso é apenas adiar o viver, de hoje para um futuro desconhecido.

Kvothe disse...

DC concordo com tudo o que dizes, no entanto este poema não é necessariamente autobiográfico, foi algo que surgiu num momento mas percebo porque interpretaste dessa forma. Além disso estaria a mentir se não confessasse que por vezes recordo memórias mas tal não me parece necessariamente mau pois nessa reflexão que faço descubro novos elementos que me compõem :)